A presença da natureza dentro e ao redor dos edifícios tem sido bastante valorizada na última década, de uma forma diferente como já fora porque os conceitos sobre a sustentabilidade da coexistência do ser humano e a natureza em nosso planeta também mudaram. Vivemos há mais de duas décadas ouvindo as discussões sobre o aquecimento global, as mudanças climáticas e a destruição gradual da natureza. É impossível não se deleitar com as imagens fantásticas da natureza, se comover com as cenas de luta pela vida de cada espécie e também ficar aterrorizado com o desastre que o ser humano causou à natureza quando se assiste ao documentário ‘Nosso Planeta” de David Attenborough. Todo este debate fez com que nos sentíssemos na obrigação de promover uma reparação ao planeta, pois carregamos um sentimento de culpa por sua devastação. Desta forma cresceu muito o uso do paisagismo de forma ostensiva nos projetos mais recentes. Mas não foi apenas a culpa que mudou nossos conceitos sobre o uso da vegetação, foi também o desenvolvimento de novas tecnologias, principalmente de irrigação automatizada e novas ideias de aplicação que se somaram a busca por espaços mais ‘biofílicos’.
Colocar a natureza dentro e ao redor de sua casa, apartamento, loja ou qualquer outro edifício nem deveria relativizar a questão de culpa de nossa espécie porque se analisarmos os benefícios que ela proporciona já deveriam bastar para que nos convencêssemos a usá-la. Ela é capaz de proporcionar uma sensação de relaxamento, nos convida a contemplação, nos proporciona paz, nos provê de conforto térmico, proporciona alimento e morada para outras espécies e lógico, também diminui nossa culpa no cartório da natureza. Os benefícios que ela promove na vida das pessoas que compartilham sua presença são inquestionáveis e seu uso na arquitetura está pautado numa temática que vai muito além da questão estética. Por isto o projeto de paisagismo tem uma importância vital na dinâmica de um edifício e do meio urbano.
Neste novo arcabouço de ideias e debates sobre o uso de vegetação surgiram algumas soluções novas que vêm proporcionando resultados funcionais e estéticos que são muito mais avançados do que fizemos no passado. Um destes elementos de destaque que vamos detalhá-lo à frente é o muro verde ou jardim vertical que tem surgido em grande número nas construções atuais, sejam casas, apartamentos ou espaços corporativos e que, na maioria dos casos, traz muita beleza, bem estar e conforto aos ambientes onde são utilizados. Mas é preciso saber projetá-lo e executá-lo com cuidado e técnica para que o resultado final seja agradável e não resulte em problemas futuros. Para explicar melhor a maneira certa de projetar e construir vamos primeiro defini-lo. Entendemos como muro verde ou jardim vertical toda superfície vertical que seja preenchida por plantas, verdadeiras ou não, em ambientes internos ou externos de maneira a quase cobrir a totalidade de uma parede ou muro. A definição parece simples, mas as próximas explicações vão te fazer entender porque os cuidados no projeto e execução são primordiais.
No quesito de projeto será necessário tomar algumas decisões extremamente importantes e elas terão que observar alguns requisitos do local:
• O ambiente é externo ou interno?
• O local recebe nenhuma, pouca ou muita luz?
• É possível termos ponto de irrigação e de drenagem?
• A estrutura da parede ou muro é rígida o suficiente?
A preferência será sempre por optar por plantas verdadeiras, por se tratar de um jardim vertical terá menos incidência de luz solar do que se fosse um jardim plantado na horizontal. Mesmo assim é preciso consultar seu arquiteto ou paisagista sobre as melhores espécies para o local.
Vamos detalhar primeiro as situações que utilizam plantas verdadeiras que são os sistemas mais complicados de se executar. Existem praticamente 4 tipos:
• O telado: este é o mais simples e barato de se executar e o que não trará resultados tão belos assim, mas é possível utilizá-lo de forma inteligente e conseguir um resultado satisfatório. Basicamente usa-se uma tela de ferro presa à parede ou muro onde se fixam os vasos das plantas por meio de fita hellerman. Geralmente este sistema não recebe irrigação por meio de mangueiras e gotejadores, o que, implica em uma dificuldade do paisagismo se manter viçoso e bonito. Também é mais difícil que o paisagismo consiga preencher toda a superfície com as plantas deixando algumas partes à vista. Este sistema é o mais leve, mas mesmo assim precisa verificar se o muro ou parede tem estrutura para suportar o peso das telas e plantas e é necessário preparar a superfície antes com material impermeabilizante e tinta acrílica. Veja exemplo.
• O de manta: consiste em um tecido de bedin com várias bolsas onde se colocam as plantas. Ele é preso ao muro ou parede. Menos rústico do que a primeira opção, mas também apresenta dificuldade em colocar um sistema de irrigação. Ele é mais pesado do que a primeira opção, mas mesmo assim ainda é leve. É possível conseguir preencher toda a superfície com as plantas, desde que seja bem cuidado (irrigado) e é necessário verificar estrutura e executar impermeabilização da superfície antes. Veja exemplo.
• O de bloco estrutural de cerâmica ou de concreto: este sistema já é extremamente pesado, mas duradouro e permite a passagem de sistema de irrigação, pois é preparado para isto. Este sistema é assentado em uma parede ou muro existente e necessita de fundação previamente executada. Além disto depois de assentado é necessário fazer a impermeabilização onde as plantas serão colocadas. É um sistema bem mais caro, demorado e difícil de executar, mas proporciona resultados muito bons por causa dos coxos livres para plantio e principalmente por causa da irrigação automatizada que é o segredo de todo jardim viçoso e bonito. Veja exemplo da GreenWall.
• O de módulos de plástico: em nosso conceito este é o melhor sistema de todos porque é muito mais leve do que o sistema que usa blocos estruturais, tem preço intermediário, é rápido de se instalar, e já vem com as mangueiras, gotejadores, vasos e mantas de bedin com tudo integrado. E o conjunto é muito bem projetado por que qualquer leigo consegue montar, pois os módulos são encaixados um ao outro como se fosse um lego. Só é preciso que a estrutura da parede ou muro suporte, ter um ponto de água e a possibilidade de drenar pelo solo. Este sistema permite em pouco tempo ter um jardim todo fechado sem deixar nenhum pedaço da superfície aparecer e proporciona resultados fantásticos além de permitir intercambiar plantas com facilidade mesmo depois de pronto. Veja exemplo da WallGreen.
Agora vamos falar dos sistemas que utilizam plantas que não são verdadeiras ou que pelo menos não estejam vivas. Como dito acima a melhor escolha é de se usar plantas de verdade, mas nem sempre isto é possível. Quando o local não permitir a única solução é utilizar o expediente da planta falsa, mas que também pode vir a proporcionar bons resultados assumindo o fake ou não. Estes sistemas são recomendados, na imensa maioria dos casos, para ambientes internos e a vantagem deles é que permitem compor as superfícies com peças de marcenaria e outros elementos, pois eles não têm irrigação. Quais são os tipos então:
• Preservado: consiste na utilização, em grande parte, de plantas mortas que recebem um tratamento para não estragarem ao longo do tempo. Ele tem menos aparência de falso por se tratar de um elemento que guarda as características verdadeiras da planta. Este sistema não requer manutenção, apenas limpeza; Veja exemplo.
• Musgo Moss: este também é do tipo preservado, mas apresenta um nicho somente dele no mercado. Ele também tem menos aparência de falso por se tratar de um elemento que guarda as características verdadeiras da planta. Este sistema não requer manutenção, apenas limpeza; Veja exemplo.
• Artificial: este é todo fabricado em plástico e pode ser comprado em rolos, pedaços ou peças. Depende do tipo de jardim que vai fazer. A beleza deste tipo de solução depende do material que comprar, pois existem peças incríveis como também algumas horrorosas que parecem mais plástico do que qualquer outra coisa. Este sistema também não requer manutenção, apenas limpeza; Veja exemplo.
Depois de todas estas explicações preciso dizer que a melhor escolha de todas é a de se decidir por utilizar a vegetação de forma ostensiva em seu projeto. As plantas, a estrutura de fixação e de irrigação deverão ser escolhidos por você e seu profissional, arquiteto ou paisagista. Também preciso deixar claro que ninguém sozinho vai salvar o planeta porque colocou um jardim vertical em casa, mas com certeza vai contribuir um pouquinho e vai melhorar a qualidade de vida de todos que se utilizarem do espaço. O ser humano agradece e o planeta também.