O luxo na arquitetura - a simplicidade do requinte estético e confortável
arquitetura de luxo

Para começar precisamos discutir um pouco sobre a definição da palavra luxo e o que ela significa na arquiteturaNo dicionário encontramos várias definições, que são, muitas vezes vagas e diversas. Além disso há algum tempo essa palavra vem sofrendo uma mudança de significado e tem sido empregada de forma diferente como fora há uns 20 anos. Antes ela carregava uma definição até pejorativa de ostentação, extravagância, excesso e segregação, mas atualmente tem sido empregada em ideias novas numa sociedade que evoluiu e entende o luxo muito mais como uma qualidade de ser e viver melhor do que propriamente de ter, de ostentar. Por causa dessa imprecisão do que seja luxo e por ter se tornado tão relativo é que precisamos montar um conceito que pontue na arquitetura quais são as qualidades enlevadas que somente o luxo pode proporcionar. Algo próximo da frase de Coco Channel “O luxo é uma necessidade que começa quando a necessidade termina”. O caminho então é o de buscar as melhores experiências na arquitetura ao invés de simplesmente demonstrar o poder aquisitivo do proprietário de um edifício, o que não significa que a obra em si será barata, pois proporcionar essas experiências custam caro, mas é um gasto que vale a pena porque se busca alimentar a alma ao invés de simplesmente o ego. Dessa forma construímos uma ideia de gastar dinheiro em quantias substanciais em edifícios arquitetônicos com a consciência limpa. Com esse conceito definido, da busca pelas melhores experiências arquitetônicas, podemos definir as práticas da arquitetura de luxo por meio de tópicos, que seriam:


Terreno

Nesse caso o luxo estaria facilmente explicitado em três questões: espaços, verde e localização. O luxo está em poder usufruir de um lote ou quadra com grandes espaços e com vegetação abundante; de uma localização próxima a boas paisagens, serviços e aparelhos urbanos; e de uma topografia que possibilite uma implantação de destaque e que proporcione um uso adequado e confortável às atividades pretendidas no local. O luxo de um terreno está nas grandes possibilidades que ele permite e não nas limitações. 


Projeto

O item mais importante de todos porque ele vai definir desde o princípio se o luxo é cafona e inadequado ou se o dinheiro foi gasto com sabedoria. E ter um projeto à altura de um edifício caro está diretamente relacionado a contratação de serviços especializados e de nível de excelência superiores. E um projeto dito ‘capa de revista’ precisa de um arquiteto que o eleve a patamares de obra de arte. Portanto economizar nesse item é caminho certo para o desastre. E ele além de ser o mais importante é também o que carrega o maior desafio porque prescinde da união de diversos elementos para que o resultado final seja alcançado. Ele depende de uma união quase simbiótica entre o dono do dinheiro e o arquiteto porque, assim como todo grande filme que precisa de um diretor espetacular ele também carece de um produtor formidável para fazê-lo acontecer. Eu posso dizer que o arquiteto sonha com o bolo e o dono do empreendimento regula os ingredientes e a forma de executar. O prato final será a união desses dois chefs, um resultado entre o almejado e o realizável. E melhor do que tentar definir essa relação é usar uma frase de um arquiteto de renome, pois já dizia Daniel Libeskind: “A pressão que um cliente traz para o projeto faz que você destile suas ideias. É como uma prensa de olivas, que destila o óleo quando encontra a resistência do caroço.”. 

O luxo no projeto estará na busca impecável em exprimir em seus espaços o máximo do deleite para o olhar, o conforto em estar e permanecer, a integração das pessoas e a surpresa do inusitado. Mais uma vez, assim como no quesito do terreno, poder usufruir de espaços amplos é quase uma regra, como também de ter vistas para o verde e para a paisagem por meio de grandes painéis de vidro. O projeto tem que ser muito mais do que funcional, ele precisa conter espaços para o entretenimento, relaxamento, contemplação e convivência; ele tem que prover muito além das necessidades básicas, ele tem que prover não só o corpo, mas também o espírito. A arquitetura de luxo é antes de mais nada uma construção que emociona, que impacta, que te faz pensar e agradecer, é a emoção que se sente ao estar debaixo do vão da loja forma projetada por Paulo Mendes da Rocha, hoje adaptada como loja da Uniflex; ou de andar por dentro da Oca do Niemeyer no Ibirapuera; de morar em qualquer casa feita por Márcio Kogan ou Isay Weinfeld; de passear pelos jardins da Fazenda Vargem Grande do paisagista Burle Marx; ou de entrar no Restaurante Imakay do arquiteto Alberto Barbour; ou do Hotel Unique de Ruy Ohtake. Todas essas obras tiveram um custo elevado, mas em todas elas o dinheiro estava à serviço da arquitetura e não o contrário.


Materiais

Parece óbvio esse quesito, mas não é. Não é só porque um determinado material é caro que ele é adequado a ser usado em uma obra. Os motivos para se usar este ou aquele material levarão em conta, antes de mais nada, o projeto que definirá quais são e a forma como usá-los. De qualquer forma os bons e lindos materiais terão, com certeza, um custo elevado. 

Depois do projeto eu acredito que esse item seja primordial para se garantir os resultados almejados pela arquitetura. As estátuas de Rodin não são de bronze e nem as de Michelangelo de mármore à toa. Ambos os mestres procuraram os materiais adequados para exprimir suas obras primas e encontraram neles diversas qualidades e especificidades necessárias para transmitir as ideias e o discurso inerentes de cada uma delas.

Os materiais evoluíram muito nos últimos 20 anos, assim como o conceito de luxo, e hoje em dia possuímos uma variedade imensa de possibilidades. Os quesitos que norteiam a escolha levam em conta as seguintes ideias: estética, durabilidade, qualidades físicas e inovação. O grande destaque da última década fica por conta dos porcelanatos, principalmente os de grande formato, que sofreram um aprimoramento de técnica e estética muito grandes oferecendo ao mercado produtos de refinada qualidade e beleza. Uma das empresas que mais destaco no quesito de inovação é a Portobello que está praticamente alterando a face desse mercado, pois além de técnica e beleza eles deram um passo a mais por meio do engajamento social e das práticas de sustentabilidade. Um exemplo primoroso é o desenvolvimento do cobogó Sururu de Mundaú que surgiu da união entre os designers Marcelo Rosenbaum e Rodrigo Ambrósio com a comunidade de Mundaú em Maceió e o artesão Itamácio dos Santos, morador do local. O sururu é um molusco utilizado na culinária e o cobogó utiliza sua casca que antes era descartada gerando pilhas de lixo orgânico. Essa casca é triturada e misturada com concreto e colocada em moldes. Depois de desmoldada cada peça é escovada manualmente garantido trabalho na comunidade. O resultado que passou a ser comercializado pela Portobello resulta numa peça muito bonita e que faz a gente sentir a alma mais leve quando o compramos.


Tecnologia

Impossível não citar este item porque assim como os materiais de acabamento evoluíram muito nos últimos anos a tecnologia também começou a embarcar com muito mais afinco nos edifícios. A automação é o destaque que possibilita inúmeras qualidades como o conforto no uso de persianas, cortinas e iluminação automatizadas; controle por meio dos sistemas de irrigação e condicionadores de ar automatizados; segurança no sistema de prevenção a roubos e acidentes; e monitoramento por meio dos sistemas de identificação.


Design e arte

Em consonância com um projeto exemplar a escolha de peças de mobiliário e adereços com design renomados e muitas vezes até premiados são itens de uso obrigatório. Assim como o uso de peças de arte como esculturas e pinturas. A arquitetura de luxo procura antes de tudo se tornar em um espaço de deleite para o olhar, quase que contemplativo da grandiosidade humana em construir ambientes que elevam nossas percepções do mundo. Nesse sentido o design e a arte têm na sua concepção a mesma intenção e sua presença nos espaços discursando com os projetos ajudam a acrescentar ao local a magnitude para o que foram projetados.


A arquitetura de luxo então se demonstra atualmente na grandiosidade de promover experiências arquitetônicas as mais aprazíveis possíveis sejam numa residência, num prédio comercial, num hospital, museu ou qualquer construção que o seja. Ela continua custando caro, mas ela significa muito mais do que o valor despendido em sua execução.